Quem passar pelo Costão da Boca da Barra, em Itanhaém, às 5h da manhã de um dia qualquer, talvez cruze com a figura inusitada de um sujeito carregando uma prancha de surf e uma varinha de pesca. Trata-se de André Luiz Moraes, proprietário do Tia Lena, indo pescar robalos antes do expediente. Embora a pesca seja normalmente para consumo próprio, a depender da maré, pode ser que o cliente do restaurante tenha a sorte de comer um peixe recém-saído do mar. A relação da família Moraes com a praia é antiga. Em 1980, os pais de André vendiam quitutes aos banhistas da Praia dos Pescadores. Saíam do Carrinho da Lena espetinhos de peixe e de camarão, risoles de camarão e de queijo, batidinhas e cerveja. “Mas não podiam ir muito além disso, porque não tinham espaço. E tinham toda a dificuldade de ter que correr com o carrinho quando a maré subia”, conta André. O negócio evoluiu para a Barraca da Tia Lena, numa praça próxima à praia, e, finalmente, em 1991, se tornou o Restaurante Tia Lena. André cresceu vendo os pais administrando o negócio e a mãe cozinhando. “Fui criado na cultura caiçara. Nosso café da manhã era ovas de tainha frita com café com leite”, conta rindo. Não seguiu o caminho da cozinha, mas foi estudar hotelaria e gestão de restaurantes. Saiu da cidade, trabalhou em outros estabelecimentos, conheceu a rotina de outros chefs, e depois voltou para assumir uma das casas da família – a outra é administrada pelo irmão. À frente do Tia Lena, André mantém a tradição ao mesmo tempo que moderniza o restaurante. A prova disso é o cardápio, que ainda conserva 60% das receitas originais da mãe. Uma delas é o bolinho de mandioca com camarão, feito com uma saborosa massa de mandioca e recheado com camarão sete barbas, pescado nas redondezas, refogado com cebola, alho, leite, tomate picado e salsinha. Um clássico da praia. André atende cerca de 1 mil pessoas por dia na alta temporada e comercializa mais de meia tonelada de pescados por semana, valorizando sempre os frutos do mar e a cozinha caiçara